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Cheguei ao fim do dia. O corredor tem vida própria. Antes do entardecer muitas portas se abriram e se fecharam. A cada movimento lá fora uma dor minúscula lembra-me da solidão dos dias passados e futuros. A coisa toda parece ancorar na loucura, e essa tênue linha é cruzada a cada passo dado sobre as lajotas vermelhas. Fechei os olhos e senti o cheiro do café que entrava pelas frestas da janela. Acompanho a vida ao meu redor através dos cheiros e ruídos que escapam aos cuidados de seus produtores. Estamos habituados a ambientes assépticos e nos esforçamos a cada movimento para sermos invisíveis no que nos aproxima de nosso estado animalesco. Gostaríamos de mascarar nossos cheiros, nosso suor, cansaço, nosso sofrimento. As fotos felizes publicadas no universo virtual em que nos afundamos, enlameados de imagens, sons e palavras alienantes, cumprem este papel. Na virtualidade não existe fedor, nem exaustão.
Recebi as chaves do quarto ao lado no meio da noite, por debaixo da porta. Do envelope pingaram palavras de escrita apressada, ensoparam o assoalho da sala e me deixaram ilhada. Meus pés estavam agora fixos, presos ao chão. Eu estava bloqueada.
Como sempre a descrição tem força. Como se não fosse ficção, mas verdade. E toda verdade é ficção porque ultrapassa o real, o factual... Não somos verdadeiros, representamos ...Escrever é ultrapassar limites.
ResponderExcluirCompleto num ir e vir: os recortes. Picotes. E tudo inteiro. Gostei.
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