A casa de Marco, herança dos pais, tinha algo de
divino. Era grande com o exterior em pedra já marcada pelo tempo. As paredes
cobertas de hera abrigavam pequenas aranhas e outros tipos de insetos que não
afetavam a vida na casa. Alguns cômodos estavam praticamente intocados, quase
como se ainda vivesse ali o casal alegre que doara aquela aura ao lugar. Os
cômodos mais movimentados eram a cozinha e o estúdio que abrigava amigos e
servia de palco para uma que outra reuniãozinha. Éramos poucos, mas fazíamos
barulho suficiente com as nossas discussões.
E o que ela pensava, ela de si mesma? Uma coisa a
descobrir. Na roda viva em que nos encontramos pouco nos pomos em posição de
observarmos a nós mesmos como seres humanos. Possivelmente essa pausa forçada
em sua vida a fazia refletir sobre isso. Podia eu, à distância, delinear
pequenos conflitos e mudanças no intimo daquela pequena mulher.
Ela me procurava de quando em quando para desabafar
e eu amiga escutava. Escutava suas angustias de menina e seus medos de mulher
que se misturavam. Sentava-se em meu sofá velho com as flores desbotadas pelo
uso e enchia a casa de alegria. Eu me deliciava com aquelas tardes cheirosas.
Chá ou café, cigarros e risadas.
Luiza Mattos
Agosto de 2010
Porto Alegre