quarta-feira, 17 de outubro de 2012

DANÇA


A lua aparece tranquila
Sussurra a cantiga perfeita
As estrelas alegram a noite
O vento me embala nas nuvens
E o baile segue feliz

Luiza Mattos 
03 de Abril de 2012
Porto Alegre

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. esse poema é um primor de encantamento, em sua simplicidade. Todo um primor de ritmo, ele é o próprio baile. Lê-lo, sobretudo em meia voz, faz o baile acontecer. E até anoitece brevemente. É lindo que você faça os primeiros versos em 8 sílabas com o ritmo tradicional de balada, acentuando a 2a, a 5a e a oitava sílabas, porque é a própria a cantiga perfeita, num ritmo que encena a tranquilidade. Afinal, as assonâncias entre 'lua' e 'sussurra', entre 'aparece' e 'perfeita' e entre 'tranquila' e 'cantiga' criam uma sensação de harmonia imensamente gostosa e ao mesmo tempo sutil. São brilhantes, os versos, em seu casamento de forma e sentido, sem qualquer 'recheio'. O mesmo segue quando você expande para nove no verso seguinte, mantendo uma modulação sonora aberta ('é' e 'a'), alegre, como um céu cheio de estrelas, mesmo. A puxadinha cria a sensação de quebra, de ligeiro descompasso, de suspensão da harmonia criada nos dois primeiros versos. É nesse clima que entra o quarto verso e nos diz, novamente com o verso de 8 e o mesmo esquema de acentuação dos primeiros, que o vento nos embala nas nuvens! Ora, que coisa gostosa. Sem o clima de quebra sutilíssimo criado anteriormente, suficiente apenas para criar em nós a sensação de desejar voltar à harmonia do início, mas não para incomodar, esse verso, que retoma o ritmo/harmonia, realmente traz o conforto das nuvens, uma sensação de apaziguamento e de aconchego. Novamente, a fusão entre o vigor poético do sentido da imagem com o rigor de uma construção perfeita. Não importa a intencionalidade, aqui. O que importa é o resultado poético. O modo como o poema me atingiu com sua vigência de palavra encantada. O desfecho não poderia ser melhor: uma redondilha maior, o verso de dicção mais fluida em português (vide "Canção do Exílio", por exemplo), que deixa a sensação de que fomos tirados para dançar, num baile que não acaba, porque deixa a vontade de voltar ao início do poema, e continuar embalado no ritmo da sua dança. Perfeito. Uma joia linda. As noites que nos convocam a poemas como esse devem ser aquelas que permanecem na memória. O apelo que conduz a tentar pôr em palavra a experiência irredutível de uma noite acaba não por reproduzir a noite original, mas por originar em quem lê algo tão bonito - de tão simples - uma noite propícia. Não uma noite qualquer. Não é toda noite que vemos as estrelas e a lua. Não é toda noite que o vento embala as nuvens. Nem toda noite é baile no mundo.

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