quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Trecho de SARA


A casa de Marco, herança dos pais, tinha algo de divino. Era grande com o exterior em pedra já marcada pelo tempo. As paredes cobertas de hera abrigavam pequenas aranhas e outros tipos de insetos que não afetavam a vida na casa. Alguns cômodos estavam praticamente intocados, quase como se ainda vivesse ali o casal alegre que doara aquela aura ao lugar. Os cômodos mais movimentados eram a cozinha e o estúdio que abrigava amigos e servia de palco para uma que outra reuniãozinha. Éramos poucos, mas fazíamos barulho suficiente com as nossas discussões.
E o que ela pensava, ela de si mesma? Uma coisa a descobrir. Na roda viva em que nos encontramos pouco nos pomos em posição de observarmos a nós mesmos como seres humanos. Possivelmente essa pausa forçada em sua vida a fazia refletir sobre isso. Podia eu, à distância, delinear pequenos conflitos e mudanças no intimo daquela pequena mulher.
Ela me procurava de quando em quando para desabafar e eu amiga escutava. Escutava suas angustias de menina e seus medos de mulher que se misturavam. Sentava-se em meu sofá velho com as flores desbotadas pelo uso e enchia a casa de alegria. Eu me deliciava com aquelas tardes cheirosas. Chá ou café, cigarros e risadas.

Luiza Mattos
Agosto de 2010
Porto Alegre

2 comentários:

  1. Muito lindo...dá para sentir e estar no lugar. Vivê-lo. Devias fazer uma oficina de escrita... bjs

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